Naná
Vasconcelos é sepultado no Cemitério de Santo Amaro, no Recife
Percussionista faleceu na última
quarta-feira (9) após 10 dias internado.
Amigos, parentes e admiradores deram último adeus ao músico nesta quinta.
Amigos, parentes e admiradores deram último adeus ao músico nesta quinta.
Do G1 PE
Naná Vasconcelos é sepultado no
Recife (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)
Ao som de batuques, de canções do
folclore nordestino e gritos de 'Viva Naná', o corpo do percussionista Naná
Vasconcelos foi enterrado nesta quinta-feira (10), pouco depois das 11h, no
Cemitério de Santo Amaro, área central do Recife. Flores foram jogadas em cima do caixão
antes de o túmulo ser selado. O músico faleceu na última quarta-feira (9), após
complicações de um câncer de pulmão descoberto há sete meses.
Parentes, amigos e admiradores
acompanharam o ato com músicas e palmas. O cantor Otto, que ajudou a carregar o
caixão na entrada do cemitério, fez questão de lembrar da generosidade do ídolo
e o trabalho que ele desenvolvia para as crianças. "(Ele era) pai da
música, de todas as gerações. É um rei que chegou aqui em Pernambuco. Sempre
estava aberto para os novos, essa coisa linda que ele era", declarou.
Outro admirador é o cantor Lira.
Para ele, Naná era "o maior de todos" e cosmopolita. "Ele
derreteu as fronteiras entre o regional e o universal. Alforriou e libertou os
estreitos criados para os negros e índios, livrando-os dos estereótipos. Ele
trouxe a luz, o protagonismo, a influência dele é gigantesca na estética da
música daqui e do mundo. Ele solfejava todos os solos de Jimmy Hendrix",
contou.
Nações de maracatu prestaram
homenagem a Naná durante seu enterro (Foto: Artur Ferraz/G1)
Depois que o túmulo foi selado,
foram cantadas músicas religiosas, tanto do universo católico quanto da cultura
africana. Um flautista ainda tocou uma canção medieval e convidou todos os
presentes a cantar o Hino Nacional. Em seguida, as nações de maracatu
executaram uma loa em homenagem ao artista. O túmulo ficou coberto de
flores.
O maestro Spok também foi ao
enterro prestigiar o mestre. Segundo ele, Naná deixa um legado infinito.
"Ele deixou o infinito, uma obra que não acaba nunca. Qualquer um que
conviveu com ele vai beber da música que fazia. Foi uma sorte ter convivido com
ele, muito aprendizado. Tinha um amor intenso por tudo que viva. Era uma
alegria", revelou.
Já o artista plástico e
arte-educador Luiz Botelho não esquece os momentos em que se encontrou com o
ídolo. "Desde criança acompanho o trabalho dele. Naná é um homem dentro da
cidade. Ele era pura música, pura poesia. Tudo o que fazia som, de panela a
penico velho, ele transformava em arte. Tudo para ele era agrupar no sentido de
som, de vibração", disse.
Cortejo
Após muitas horas de homenagens de parentes, amigos e fãs, o cortejo com corpo do percussionista Naná Vasconcelos, de 71 anos, deixou, às 10h, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), no Centro do Recife, em direção ao Cemitério de Santo Amaro, também na capital pernambucana.O caixão foi levado em carro aberto pelo Corpo de Bombeiros
Após muitas horas de homenagens de parentes, amigos e fãs, o cortejo com corpo do percussionista Naná Vasconcelos, de 71 anos, deixou, às 10h, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), no Centro do Recife, em direção ao Cemitério de Santo Amaro, também na capital pernambucana.O caixão foi levado em carro aberto pelo Corpo de Bombeiros
saiba
mais
O artista, que morreu na manhã de
quarta-feira (9), foi velado no plenário da Assembleia Legislativa de
Pernambuco. Naná ficou 10 dias internado no Hospital da Unimed III e não
resistiu a complicações de um câncer de pulmão.
O plenário da Assembleia de
Legislativa (Alepe) ficou lotado desde cedo, nesta quinta-feira (10), para as
últimas homenagens ao percussionista. Antes de o cortejo seguir em direção ao
Cemitério de Santo Amaro, diversas apresentações de artistas e nações de
maracatu foram realizadas.
Amigos e familiares seguem a pé
da Assembleia em direção ao cemitério (Foto: Artur Ferraz/G1)
A musicista Íris Vieira, da
Orquestra Sinfônica de Pernambuco, tocou a música 'Trenzinho Caipira', de
Villa-Lobos, acompanhada pelo grupo de percussão Batucafro. Depois, o poeta
cearense Israel Batista declamou o poema que fez em tributo ao percussionista,
'Louvor a Naná'.
A representante do Movimento
Nacional do Quilombo Raça e Classe, Rosália Nascimento, também recitou um texto
que fez em reverência ao músico. Durante o pronunciamento, ela destacou a
importância de Naná para a população de origem africana. "Salve, salve,
Naná, você mostrou que o negro pode ocupar todos os espaços. Vai deixar para
nós a sua história, a sua música. Naná, sempre presente, hoje, amanhã e
sempre", ressaltou.
Em seguida, o pai de santo
Raminho de Oxóssi conduziu uma cerimônia com vários grupos religiosos de matriz
africana. "Que Deus lhe dê o descanso eterno", desejou ao som de
aplausos e batucadas. Ao fim do culto, um pequeno coral formado por cinco
cantoras, clarins da Orquestra Sinfônica e percussionistas entoaram canções do
artista e de ritmos afro-brasileiros.
Luz Morena, filha de Naná
Vasconcelos, toca o rosto do pai durante velório do percussionista na
Assembleia Legislativa. Ao lado dela, Patrícia Vasconcelos, viúva de Naná
(Foto: Aldo Carneiro/Estadão Conteúdo)
Velado desde ontem
O velório de Naná Vasconcelos teve início às 14h30 da quarta-feira (9). Consternadas, a viúva do percussionista, Patrícia Vasconcelos, e filha do casal, Luz Morena, se emocionaram com a chegada do caixão e receberam o carinho de pessoas ligadas à família. "Ele partiu fazendo música no quarto do hospital nos últimos dias da vida dele. Ele vivia a música respirava a música. Todo momento que falava sobre isso se sentia melhor. Espalhou muito amor e muita música pelo mundo todo. Essa é uma perda material, mas a música vai ficar. Ele deixa humildade como lição. Respeito ao próximo", disse a esposa Patrícia.
O velório de Naná Vasconcelos teve início às 14h30 da quarta-feira (9). Consternadas, a viúva do percussionista, Patrícia Vasconcelos, e filha do casal, Luz Morena, se emocionaram com a chegada do caixão e receberam o carinho de pessoas ligadas à família. "Ele partiu fazendo música no quarto do hospital nos últimos dias da vida dele. Ele vivia a música respirava a música. Todo momento que falava sobre isso se sentia melhor. Espalhou muito amor e muita música pelo mundo todo. Essa é uma perda material, mas a música vai ficar. Ele deixa humildade como lição. Respeito ao próximo", disse a esposa Patrícia.
A mulher de Naná fez questão de
destacar o trabalho que realizou junto a crianças e o legado que deixará,
apesar de sua morte. "Como músico o trabalho que ele faz com crianças.
Essa musicalidade se transporta para todas as idades. Era uma missão de vida se
preocupar com o futuro de crianças que moravam na rua, que tinham problemas de
deficiência. A gente descobriu a doença muito avançada. Já tínhamos viagem
marcada para Nova Iorque (Estados Unidos) mas não deu tempo. Mas a equipe
médica aqui foi muito competente e ele sempre muito positivo, querendo
viver", acrescentou.
A filha do casal, Luz Morena, 16,
disse que leva do pai um exemplo de humildade e força. "Ele me dá muita
força sempre. Ele me chamou na UTI e me disse que eu seguisse meu sonho, que é
estudar design de moda fora do país. Tenho muito orgulho da obra e da pessoa
que ele foi", disse a filha com serenidade.
A outra filha do percussionista,
Jasmin Azul, 21 anos, mora em Nova Iorque. A cerimônia foi aberta ao público. A
população teve acesso ao plenário da Casa de José Mariano até a manhã da
quinta-feira (10), antes do cortejo partir rumo ao Cemitério de Santo Amaro,
também na área central do Recife, onde acontecerá o enterro de Naná Vasconcelos.
Velório do percussionista Naná
Vasconcelos acontece no Recife (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)
Na coroa de flores que veio junto
com o corpo de Naná, havia a inscrição "Amém e amem". Segundo o
contra-regra de Naná, Edelvan Barreto, essa era a mensagem que ele queria
deixar para o mundo. "Amém e amem ele compôs da primeira vez que se
internou no ano passado. Essa música deve se propagar em toda a humanidade
nesse mundo perturbado que vivemos hoje. Essa era lição que Naná queria deixar
para todos nós".
Os famosos tambores de Naná não
estiveram presentes durante seu velório. Seu fotógrafo e amigo João Rogério
Filho disse que o prédio da Alepe, por ser um patrimônio histórico e tombado
tinha restrições. "Aqui tem uma restrição com instrumento de percussão. A
batida forte pode subir e danificar a estrutura do prédio".
Maracatu Nação Pernambuco fez
homenagem a Naná na área externa da Alepe
(Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press)
(Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press)
Apesar disso, o Maracatu Nação
Porto Rico levou as alfaias para a área externa do prédio e fez uma homenagem
ao percussionista, relembrando Naná como símbolo da união dos maracatus de
Pernambuco. ‘Toque o tambor que Naná chegou. Todas as nações vêm saudar nesse
carnaval’, estava entre as letras entoadas pelo grupo, liderado por mestre
Chacon Viana.
A esposa e a filha de Naná Vasconcelos com o
mestre Chacon Viana (D) (Foto: Malu Veiga / G1)
mestre Chacon Viana (D) (Foto: Malu Veiga / G1)
"Naná deixava bem claro que
não tem mestre, nem ninguém melhor, o mestre é só o do céu. Com seu papo pé no
chão ele conseguia que as nações do estado se unificassem e se tornassem uma
só. Ele tinha uma coisa que Deus que deu. Ele não precisava se sacrificar
tanto, ele já tinha nome. Mas ele trabalhava o Carnaval inteiro, mesmo na
quimioterapia ele frequentava as comunidades, trabalhava com as crianças”,
recordou Viana.
Integrantes da Orquestra Criança
Cidadã também fizeram uma apresentação em homenagem a Naná durante o velório. O
presidente da Alepe, deputado Guilherme Uchoa destacou o patrimônio cultural
que o percussionista era para o estado. "Ele é um exemplo para essa
juventude que hoje o sucede. Ele deixou um exemplo forte da cultura pernambucana
no exterior. Ele resistiu à doença até os últimos minutos da vida e vai deixar
uma lacuna impreenchível”, afirmou.
O prefeito do Recife Geraldo
Julio também esteve presente no velório e reforçou que o legado do
percussionista é um presente a cultura de Pernambuco. "Naná já foi
reconhecido várias vezes como melhor percussionista. Convivi muito com ele.
Fica o ensinamento dele, toda a arte, o talento e a cultura para marcar nossa
cidade e inspirar muita gente para seguir os passos".
Amigos músicos fazem homenagem a
Naná Vasconcelos na Alepe (Foto: Malu Veiga / G1)
O músico Zé da Flauta chegou a
conversar com Naná na terça (8). Segundo ele, o estado do percussionista já era
fragilizado. "Ele fazia um esforço danado e não podia pra falar. Eu sai
muito abalado de lá e acordei com essa notícia. Eu chamava ele, meu grande
amigo, de "Butimbundo". É uma expressão africana para dizer que a
pessoa é muito inteligente. Ele me chamava assim também", recordou.
A risada do músico é o que vai
ficar na memória do Maestro Forro. "Minha lembrança mais marcante, além de
ser um gênio musical, era da sua risada. Ele acabava com qualquer embate,
qualquer divergência, só rindo. Ele vai ficar vivo em nossos corações como um
dos melhores exemplos de resistência, de luta", afirmou Forró.
Para o músico Ed Carlos, conhecer
Naná mudava a vida de qualquer pessoa. "Aqueles que tiveram o privilégio
de conhecê-lo não são mais as mesmas pessoas. Assim foi comigo. Tive o
privilégio de estar ao lado dele e hoje me sinto mais gente por isso. Só digo
uma coisa: Naná é pra sempre", disse.
Maestro Forró abraça a filha
caçula de Naná Vasconcelos, Luz Morena, no velório que acontece na Alepe nesta
quarta-feira (9) (Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press)
Luto oficial
No fim da manhã de quarta-feira (9), o governador Paulo Câmara decretou luto de três dias pela morte do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos. O artista que faleceu na manhã desta quarta-feira em decorrência de complicações de um câncer de pulmão, no Hospital Unimed III, onde estava internado desde o último dia 29. A morte do artista pernambucano foi confirmada no início da manhã. Segundo informações da assessoria da unidade de saúde, Naná teve uma parada respiratória, passou por um procedimento, mas não resistiu e faleceu às 7h39.
Além do decreto, o chefe do
Executivo estadual divulgou nota falando sobre o artista. "Pernambuco
acordou triste. O silêncio causado pelo desaparecimento de Naná Vasconcelos em
nada combina com a força da sua música, dos ritmos brasileiros que ele, como
poucos, conseguiu levar a todos os continentes. Naná era um gênio, um
autodidata que com sua percussão inventiva e contagiante conquistou as ruas, os
teatros, as academias. Meus sentimentos e a minha solidariedade para com os
seus familiares”, diz o texto.
Coroa de flores enviada por Elba
ao velório de Naná Vasconcelos (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)
A morte de Naná gerou grande repercussão entre a classe
artística e política. Figuras como Lenine, Alceu Valença e Gilberto
Gil, deram depoimentos sobre o legado deixado pelo pernambucano. O músico
Marcelo Melo, da banda Quinteto Violado, um dos primeiros a chegar ao velório
de Naná, lamentou o falecimento do colega. "A gente se conheceu nos anos
60. Tínhamos um quarteto vocal chamado O Bossa Norte. Naná era uma pessoa muito
querida, muito amiga. Eu assumi o Quinteto e ele a vida dele. Eu tinha muito
carinho por ele e era um talento muito grande".
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