Dos primeiros ensaios na cozinha às paradas de
sucesso, o duo berlinense Rosenstolz trilhou um caminho árduo. Hoje, até o
prefeito de Berlim corre para vê-los no palco. Mas não foi sempre assim.
Rosenstolz ficou muito tempo
associado à cena gay
Eles encerraram sua última turnê com chave de ouro:
após 27 shows esgotados por todo o país, o duo berlinense Rosenstolz levou 17
mil fãs berlinenses ao delírio em um show a céu aberto. Até Klaus Wowereit,
prefeito da capital, estava presente. Uma semana após seu lançamento, o atual
disco Herz (Coração) foi premiado com o disco de ouro e
em oito semanas alcançou o de platina.
Mas a carreira de AnNa R. e Peter Plate não foi
sempre assim. Para muitos, os Rosenstolz eram uma banda difícil de entender.
Primeiro porque, durante muito tempo, o duo ficou reservado à cena gay (Peter
assumiu sua homossexualidade aos 19 anos). Além disso, sua música não é de
fácil classificação: os Rosenstolz gostam de percorrer os caminhos mais
exóticos para chegar à música pop.
Mesmo no auge do sucesso, o duo ainda marca
presença na cena onde começou. Peter Plate é hoje dono de um bar em Schöneberg,
o bairro gay de Berlim. A banda também se envolve ativamente em questões
sociais: a cada turnê, os Rosenstolz doam centenas de milhares de euros à
Deutsche Aidshilfe, a associação alemã de ajuda aos portadores do HIV.
Ensaios na cozinha
Desde pequena, AnNa R. tentava a carreira de
cantora na então Berlim Oriental, embora não tenham sido poucas as vezes em que
foi aconselhada a desistir dos ambiciosos planos. Com uma canção de Whitney
Houston, ela lutou por uma vaga na Escola de Música de Friedrichshain, bairro
onde nasceu. Sem sucesso.
Peter Plate nasceu no outro lado mundo, em Nova
Délhi, Índia, onde seu pai trabalhava como diplomata, e foi trazido mais tarde
pelo padrasto para a região do Harz, no estado alemão da Baixa Saxônia. Após a
queda do muro de Berlim, Peter tomou a decisão acertada de ir para a capital,
que vivia então seus tempos áureos.
Peter logo encontrou um apartamento e foi o próprio
locador quem lhe apresentou AnNa. Os dois começaram imediatamente a compor
juntos. Os primeiros ensaios aconteceram na cozinha do apartamento de Peter,
escondido nos fundos de uma velha casa - o banheiro, diga-se de passagem,
ficava do lado de fora, na escadaria.
Os primeiros shows
O primeiro show foi coisa para amigo: dos 30
presentes, apenas 15 eram pagantes. Mesmo assim, AnNa levou a cabo sua idéia de
vestir uma roupa diferente a cada canção. Um pesadelo para Peter, que teve de
lidar com a inquieta platéia sozinho. Mas os shows continuaram até que o duo
chamou a atenção de Tom Müller, naquela época produtor de Nina Hagen. Juntos,
eles lançaram em 1992 o álbum de estréia Soubrette werd' ich nie. O
disco vendeu mal, mas nele estão canções que hoje fazem parte de qualquer show
do duo.
Dois anos depois, em 1994, veio o álbum
seguinte, Nur einmal noch (Só mais uma vez). Eles
juntaram algum dinheiro e fizeram um vídeo, que nenhuma emissora transmitiu.
Mas enfim uma boa notícia: em 1995, todos os mil ingressos para a apresentação
de ambos na casa de shows Metropol foram vendidos e uma data extra teve de ser
arranjada. AnNa e Peter estavam no caminho certo.
O contrato
Em 1996, a banda passou ao universo das grandes
gravadoras, ao assinar um contrato com a Polydor. Em 1997, veio o álbum Die
Schlampen sind müde (As vagabundas estão cansadas), que alcançou a posição
33 da parada. Um ano depois, veio o convite para disputar quem representaria a
Alemanha no festival Eurovision e o Rosenstolz acabou ficando em segundo lugar.
Uma derrota que foi, na verdade, uma vitória: a banda caiu nas graças do
público e, pela primeira vez, emplacou um single na parada alemã.
O disco Zucker (Açúcar),
de 1999, foi sucesso garantido: emplacou direto na segunda posição da parada. O
caminho era sem volta: hoje, eles são figurinha carimbada na cena musical alemã
e os discos que seguiram passam longas temporadas nas paradas de sucesso.
Crítica
social e diversidade musical no show de Criolo em Berlim
Um dos mais celebrados artistas da nova geração
retorna à capital alemã para apresentar disco "Convoque seu Buda",
mistura certeira de música urbana e ritmos brasileiros.
Foi
quase uma experiência religiosa – Criolo tocou o coração e a consciência do
animado público que, no sábado passado (24/01), lotou mais uma apresentação do
músico brasileiro em Berlim.
Entre
alemães e brasileiros, a entusiasmada audiência dançava e cantava sucessos
de Nó na orelha, álbum de 2011 que levou o trabalho do paulistano
ao grande público, e de Convoque seu Buda, o mais recente disco,
lançado em novembro de 2014.
"Esta
oportunidade proporciona encontros com novas culturas, com outras formas de se
pensar o mundo e, em algum momento, isso pode desaguar em alguma parte da minha
construção artística", disse Criolo, em entrevista à DW Brasil.
No
palco, as palavras de Criolo criam um vívido painel da sociedade brasileira,
que, visto de fora, parece difícil de ser celebrado. Sua poesia tem a força
crítica do rap, mas o músico foge dos clichês baseados no ódio, criando belas
cadências, embaladas por uma mistura original de hip hop e ritmos brasileiros.
"É
uma emoção muito grande. Nunca imaginei viver o que estou vivendo, tanto com
o Nó na orelha, quanto com este novo álbum. São oportunidades únicas
e especiais de propor um olhar nosso, que encontra o olhar do outro – afinal de
contas, são pontos de vista", comentou.
Trabalho
coletivo
Assim
como no disco anterior, a música de Criolo é guiada pelo trabalho coletivo. Convoque
seu Buda tem produção musical de Marcelo Cabral e Daniel Ganjaman.
"Eu
cheguei com as canções, e outras canções foram construídas em estúdio. Esta
pluralidade surge mais uma vez do encontro com o Marcelo e o Daniel,
contribuindo com a construção musical desse momento", comentou Criolo.
Além
da dupla de produtores, Criolo contou com a colaboração dos compositor Douglas
Germano, Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, das cantoras Tulipa Ruiz e Juçara
Marçal, e do americano Money Mark, conhecido por suas colaborações com o grupo
de rap nova-iorquino Beastie Boys.
"Houve
também uma participação maior de todos os músicos que me acompanham na estrada,
criando assim uma unidade sonora que reflete as experiências e as vivências
desses anos de encontro e trabalho", disse o paulistano.
Cabral
e Ganjaman também fazem parte da afiada banda que acompanhou Criolo em sua
apresentação em Berlim, que teve ainda as participações especiais do rapper
alemão Peter Fox e de membros da banda Seeed.
Crítica
pungente
Com Convoque
seu Buda, o músico mais uma vez apresenta novas possibilidades para o
caminho trilhado pelo rap nascido em São Paulo. A raiz do disco está na
periferia, e ela se reflete na intensidade das batidas, na diversidade musical,
nos versos corpulentos e na crítica social contundente.
A
crítica social de Criolo é feita de forma criativa e sem deixar de ser pungente
– as letras são um retrato das diferenças, da injustiça e da criminalidade brasileiras,
mas elas sempre revelam respeito e até mesmo ternura pelos seus personagens.
Assim,
Criolo fala de um funcionário de bufê que serve festas de luxo em Cartão
de visita, de meninos que seguram fuzis na densa Plano de voo,
de um padeiro que não chegou ao trabalho devido à greve no samba Fermento
pra massa e de um morador de rua usuário de crack em Casa de
papelão.
"O Brasil é um país jovem, que herdou um modo
de se criar uma sociedade que tem como reflexo uma situação muito delicada.
Nesse período de quatro anos entre um álbum e outro, o que eu percebo é que
cada vez mais nossos jovens estão se reunindo, se organizando e trabalhando
para que tenhamos uma sociedade mais justa", disse o artista.
No velório, colegas artistas
destacam a grandeza da atriz Marília Pêra.
05/12/2015 18h51Rio de Janeiro
Paulo Virgílio – Repórter da Agência Brasil
A atriz Marília Pêra participou, em outubro de 2015, do
programa Kinoscope, da Rádio MEC FM, da
EBCAna Paula Migliari/Arquivo TV Brasil
Dezenas
de amigos, em grande parte colegas de profissão, estiveram na tarde de hoje (5)
no velório da atriz Marilia Pêra, que morreu na manhã deste sábado, aos 72
anos, de um câncer no pulmão. O velório ocorreu na casa de espetáculos que leva
o nome da atriz, a Sala Marília Pêra do Teatro do Leblon, na zona sul do Rio.
O
acesso ao teatro foi restrito até às 15h30 a familiares e amigos. Somente a
partir desse horário é que foi permitida a entrada de fãs e de jornalistas,
antecedendo a saída do corpo para o sepultamento, marcado para às 17h no
Cemitério São João Batista, em Botafogo, também na zona sul carioca.
No
ano passado, já enfraquecida pela doença, Marília Pera dirigiu a atriz Cláudia
Ohana numa remontagem da peça Callas, que a própria Marília havia interpretado
em 1996, sobre a vida da célebre cantora lírica Maria Callas. Ao chegar para o
velório, Claudia Ohana lembrou que, mesmo doente, Marília não perdeu a firmeza.
“Ela estava bem fraca, mas era muito exigente, com o horário, com a fala, com o
texto. Ela era muito firme, mas com a voz calma, sempre doce. Por causa dela,
eu ganhei coragem para fazer um monólogo”, contou a atriz.
Outra
atriz, Joana Fomm, não conseguiu conter a emoção ao falar da colega, com quem
chegou a contracenar em um especial da TV Globo. “A Marília foi uma das maiores
atrizes do mundo”, disse Joana, com a voz embargada. “Ela foi muito bacana
comigo quando atuamos juntas. Também foi muito generosa comigo quando eu estive
doente. Marília era uma pessoa especial”.
A
atriz Nicette Bruno chegou de braços dados com as filhas, as também atrizes
Beth Goulart e Bárbara Bruno. “Marília merece a nossa homenagem por tudo que
fez pelo teatro, pela arte e pelo Brasil”, declarou Beth Goulart, ao entrar
para o teatro onde o corpo foi velado.
Estiveram
também no velório os atores Miguel Falabella, Marcos Caruso e Gracindo Júnior e
as atrizes Arlette Salles, Cássia Kiss e Marieta Severo.
“Estou
pasma com a perda de uma das maiores atrizes brasileiras, quando ainda se
esperava muito dela”, disse a ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda, em
declaração postada em seu perfil no Facebook. “Acompanhei a carreira de Marília
Pera desde, praticamente, o início e sempre notei nela uma atriz única,
inimitável, com humor, leveza, força e intensidade, com total domínio do
personagem e de tudo que se passava em cena. Era absolutamente sensacional assisti-la
atuando”, afirmou.
Uma
das últimas participações de Marília Pera foi no programa Kinoscope, da Rádio
MEC FM, da EBC no Rio de Janeiro. A entrevista foi feita pelo produtor e
apresentador Fabiano Canosa, em setembro passado na casa da atriz, em Ipanema,
e foi ao ar em 15 de outubro último.
Marília
revelou detalhes de sua trajetória ao apresentador do programa, dedicado à
música feita para o cinema. Canosa abriu o programa com um sucesso de Carmen
Miranda na voz de Marília, que também relembrou as outras cantoras que reviveu
no teatro, como Dalva de Oliveira, Ellis Regina e Maria Callas.
Ainda
no programa, que vai ao ar às quintas-feiras, às 22h, Marilia Pêra falou do
filme Pixote, de Hector Babenco, que lhe valeu em 1981 o prêmio da Sociedade
Nacional de Críticos dos Estados Unidos. Na película, a atriz interpretou a
prostituta Sueli. "Um radialista perguntou se eu era prostituta mesmo. Fui
fazer uma entrevista na rádio e ele perguntou. E eu falei: que elogio!",
lembrou.
De Elza Soares ao grupo As Bahias
e a Cozinha Mineira: veja artistas que debatem as questões de gênero
Com seu
caráter agregador, político e mobilizador de massas, a música é uma poderosa
aliada como ferramenta de transformação social
Montagem/Divulgação/Instagram
por
Luciana Rabassallo 29 de
Out. de 2015 às 18:30
Uma questão da prova de Ciências
Humanas do Enem 2015 (Exame Nacional do Ensino Médio) reacendeu na mídia e nas
redes sociais inúmeros debates sobre o machismo e as questões de gênero. O
exercício, que envolveu a célebre frase da escritora francesa Simone de
Beauvoir ("Não se nasce mulher, torna-se mulher"), foi citada em uma
pergunta sobre as lutas feministas da metade do século XX.
Imediatamente, políticos
conhecidos por discursos conservadores como os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ)
e Marcos Feliciano (PSC-SP), também utilizaram as redes sociais para condenar a
referência à obra O Segundo Sexo, de 1949, em uma prova nacional
aplicada para aproximadamente seis milhões de pessoas. A coisa ficou ainda pior
quando, na segunda etapa do Enem, o tema da redação foi "A persistência da
violência contra a mulher na sociedade brasileira".
Segundo a visão dos deputados,
fomentar o debate acerca das questões de gênero e fazer com que os jovens que
participaram do exame reflitam sobre a violência e o machismo incrustado na
sociedade brasileira é uma “doutrinação ideológica da esquerda”. Enquanto o
país se divide entre os que pensam como Bolsonaro e os ativistas que trabalham
de forma incansável para garantir a igualdade de gênero, a luta chega à
diversas formas de expressões artísticas. Entre elas, óbvio, está a música. Com
seu caráter agregador, político e mobilizador de massas, a técnica de combinar
os sons de forma melodiosa é uma poderosa aliada como ferramenta de transformação
social.
Nos últimos meses, inúmeros artistas,
que englobam novatos como As Bahias e a Cozinha Mineira até a diva Elza Soares,
têm questionado em canções, discursos e projetos visuais as relações de poder
configuradas por meio de uma concepção de masculinidade hegemônica, reconhecida
e legitimada socialmente. Esses artistas questionam os padrões, as normas
estéticas e os códigos de masculinidade que, ao serem chancelados pela
sociedade, se tornam corriqueiros. A banalização da violência e da
intolerância, que muitas vezes são confundidas com a virilidade masculina, são
alguns dos pontos abordados por eles. Afinal os gêneros estão muito além da
questão homem-mulher.
Elza Soares e o grito libertário de A Mulher do
Fim do Mundo
A cantora Elza Soares, de 78
anos, cujo tempo de estrada ultrapassa a marca de meio século, lançou no começo
de outubro o primeiro álbum da carreira dela formado integralmente por canções
inéditas. A Mulher do Fim do Mundo, fruto do encontro entre a artista
carioca e a estética musical contemporânea de São Paulo, faz uma ode às mulheres
brasileiras.
“É um disco feminista”, afirma
Elza, que é a personificação de várias minorias - nasceu mulher, negra e pobre.
“As letras são fortes e contundentes. Um reflexo da força emanada pelas
mulheres que enfrentam um difícil cotidiano”, explica a intérprete, antes de
sentenciar: “Ser mulher no Brasil é uma coisa muito difícil”. A biografia da
artista ilustra de forma contundente sua própria afirmação: casou-se com 12 anos
de idade, obrigada pelo pai; aos 13, foi mãe e, aos 21, viúva, e com quatro
filhos para criar.
Entre os temas abordados no álbum
está a violência doméstica. “Você vai se arrepender de levantar a mão para
mim”, canta Elza no single “Maria da Vila Matilde”. Responsável pela letra, o
compositor Douglas Germano conta que sofreu com o problema na infância. “Sou
filho de uma Maria. Eu vi essa Maria, minha mãe, apanhar em casa. Era garoto e
a única coisa que conseguia fazer era sentir medo de meu pai e dó de minha
mãe.”
Segundo Germano, Elza foi a
primeira mulher que ele viu, ainda garoto, “falar sobre esse assunto”. A
história de “Maria da Vila Matilde” se passa nos anos 1970 – “quando não havia
lei Maria da Penha”, apesar de haver uma citação a um celular na letra –, e faz
menção ao telefone 180, número de um serviço de denúncia da violência contra a
mulher.
A Mulher do Fim do Mundo passeia
por fragmentos de uma cidade narrada à luz do núcleo criativo composto por Kiko
Dinucci, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos, com direção artística de Celso Sim e Romulo
Fróes, e produção de Guilherme Kastrup. As 11 composições são assinadas tanto
por integrantes do grupo – formado especialmente para a concepção do disco –
quanto por outros artistas paulistas, como Cacá Machado, Clima e José Miguel
Wisnik.
Em “Pra Fuder”, Elza narra a
libido feminina de forma lírica, direta e libertária: “Olho pro meu corpo sinto
a lava escorrer/ Vejo o próprio fogo não há força pra deter/ Me derreto tonta,
toda pele vai arder /O meu peito em chamas solta a fera pra correr”. O disco segue
com “Benedita”, que conta a história de uma travesti que “leva o cartucho na
teta, abre a navalha na boca e tem uma dupla caceta”. Há ainda uma homenagem as
mães: “Levo minha mãe comigo /pois deu-me seu próprio ser”, diz a letra de
“Comigo”.
Todas as mulheres são
representadas pela sabedoria de Elza Soares em A Mulher do Fim do Mundo.
Mulher, de As
Bahias e a Cozinha Mineira
Formada
em 2011 pelos artistas Assussena Assussena, Rafael Acerbi e Raquel Virgínia,
que à época eram estudantes do curso de História na Universidade de São Paulo,
a banda As Bahias e a Cozinha Mineira se prepara para lançar no próximo dia 7
de novembro, no Grazie a Dio, em São Paulo, o disco Mulher, quem tem
produção de Deivid Santos - saiba mais aqui.
Com
influências de nomes como Gal Costa, Novos Baianos, Amy Winehouse e Ney
Matogrosso, o grupo propõe uma discussão acerca do machismo, da misoginia e de
qualquer tipo de intolerância, seja ela de cunho religioso, étnico, social ou
sexual. No single “Apologia às Virgens Mães”, as poderosas vozes de Assussena e
Raquel contrapõem o sagrado e o profano ao reiterar a santidade de todas as
mulheres – castas ou não.
Veja o
clipe de “Apologia às Virgens Mães”:
“Quantos
tempos teceram teus vestidos de lã?
Quantas tranças os tempos fizeram traçar teus cabelos?
Quantos beiços beberam do teu peito o afã?
E dos seios sugaram o sulco sem dor, dos teus zelos
Senhora de saia, de ventre predestino,
Quantos tempos cruzaram num ponto de cruz teu destino?
Oh mães de Jesus, oh virgens, todas virgens
Já choraram teu choro, prantos correm na História
Feito rio que erode do espaço às margens: trajetória
E de um traje contido, de branco e grinalda na média,
Abusaram o desejo do corpo e teu sonho trajou de tragédia
Menina de saia de gozo pré-extinto
Quantos tempos bordaram o calado bordel de teu instinto?
Oh mães de Jesus, oh virgens, todas virgens
Na sacola da feira, tem de besteira feijão
Tem também muitas eras de carga alçada em tua mão
Pudera ter tempo, senhora, tanto tempo pudera e tem
Do fruto da feira, vambora, tempos colheitas de tempo têm
Deles, tantos puseram, oh dona, de peso no saco da feira
Se de Madalena o filho, Madona
Pesa mais: não tem eira nem beira
Não tem eira nem beira, nem eira nem beira.”
LAY e a Bucepower Gang
Como combater a onda de homens
que compartilham, sem o consentimento da parceria, fotos íntimas de suas
namoradas, esposas, colegas ou amantes nas redes sociais? Remover o véu pudico
que encobre o nu feminino é uma boa estratégia. Foi com essa premissa que Lay
Moretti criou o tumblr Bucepower Gang, no qual mulheres desconhecidas do
Brasil todo podem publicar "selfies de ass" e “nudes” com o intuito
de fomentar um debate acerca da liberdade sexual feminina.
Nesse contexto, a artista que
mora em Osasco, cidade localizada na zona metropolitana de São Paulo, prepara
sua estreia como rapper com o EP #129129, que tem produção de Léo Grijó
e deve chegar às plataformas de streaming em 2016. As rimas de LAY pregam a
sororidade em canções como “Ressalva”, na qual ela clama por “Mais peitos,
menos tretas!”. As influências da artista vão de Dina Di a Lil' Kim, e a
estética gira em torno da retomada dos timbres da década de 1990.
Selvática, de
Karina Buhr
A cantora Karina Buhr foi
dominada por uma urgência inquietante que a impulsionou a trabalhar de forma
rápida no sucessor de Longe de Você (2011) assim que recebeu um exemplar
de Desperdiçando Rima, livro lançado pela artista em março deste ano.
“Tive uma vontade incontrolável de começar a fazer melodias para alguns poemas
que estão na obra como, por exemplo, ‘Rimã’ e ‘Desperdiço-te-me’”, conta.
Gravado no Estúdio YB, em São
Paulo, o disco Selvática, que chegou às plataformas de streaming em
outubro, também tem canções inéditas, como a faixa-título, que é inspirada no
livro Gênesis, o primeiro do Antigo Testamento. “Eu leio a bíblia
sempre que posso por conta do caráter de fábula que as histórias carregam.
Esses textos tiveram grande influência na canção que dá nome ao disco”, explica
Karina.
“Fui inspirada pelos animais
selváticos e pela maneira como as mulheres são descritas nas narrativas
sagradas”. A letra faz uma ode às guerreiras Daomé - único exército formado
exclusivamente por amazonas registrado na história recente -, que lutaram
contra a colonização do continente africano no século 19.
A artista promove um necessário
debate sobre a servidão feminina e os valores históricos que rebaixam a mulher
na sociedade. “Hoje eu não quero falar de beleza /Ouvir você me chamar de princesa”,
previne Karina na letra de “Eu Sou um Monstro”, faixa que convoca as mulheres
para lutarem contra os padrões de beleza pré-estabelecidos. Selvática
ainda conta com duas participações especiais: Denise Assunção, que integrou a
lendária Isca de Polícia - banda paulistana que agitou a cena musical independente
na década de 1980 -, e Elke Maravilha, modelo e atriz.
Ah! E ainda temos a foto do
encarte, na qual Karina mostra os seios, que foi banida de redes sociais como
Facebook e Instagram.
O feminino e o masculino de Liniker
O grupo Liniker, que recentemente
se tornou um viral nas redes sociais com o lançamento do EP Cru, é
formado por Guilherme Garboso (bateria), Márcio Bortoloti (trompete), Rafael
Barone (baixo), Willian Zaharanszki (guitarra), Bárbara Rosa (backing vocal),
Ekena Monteiro (backing vocal) e Renata Santos (backing vocal).
A banda de Araraquara, no
interior de São Paulo, tem como característica canções que fazem um profundo
mergulho no balanço da soul music. O destaque, contudo, é o vozeirão à Tim Maia
do vocalista Liniker Barros, que imprime autenticidade e poder aos singles
“Caeu”, “Louise du Brésil” e “Zero”. O visual adotado pelo cantor, que mescla
bigode, batom, rímel, brincos, colar e vestido, desconstrói de forma enfática
os códigos imputados ao gênero masculino.
As faixas “Louise du Brésil”,
divulgada no dia 16 de outubro, e “Zero”, liberada no dia 22, já ultrapassaram
as 30 mil visualizações no YouTube. No Facebook, apenas a canção “Zero” já
bateu a marca de 800 mil acessos.
Ney Matogrosso durante a entrevista. / Mauro
Pimentel
Ney Matogrosso (Bela Vista, 1941) senta no canto do sofá, forrado
com a bandeira de Pernambuco, com as pernas recolhidas e meio corpo fora,
parecendo que a qualquer momento vai cair no chão. É o jeito de alguém pronto
para sair da cena rapidamente. Fica mais de uma hora se equilibrando, mas não
oferece sinais de querer sair correndo. Ney recebe a reportagem ainda com a luz
entrando pelas janelas da sua enorme cobertura no Leblon, no Rio de Janeiro, mas pouco
depois o sol se põe e a casa fica quase na escuridão. Ele só acenderá uma luz à
petição do fotógrafo minutos antes do encontro acabar.
Nada se escuta na sala a exceção dos gritinhos de uma fêmea de macaco prego que pula de um lado pra outro de uma gaiola
gigante. O animal está nervoso, não gosta de mulher perto. Ela gosta do Ney, e
de algum ou outro conhecido, e o resto deve ficar longe. Garota, amada e mimada
pelo intérprete, representa, paradoxalmente, o que Ney Matogrosso se esforça por combater o tempo todo: os ciúmes. Ele chegou
a cantar que os ciúmes são o “perfume do amor”, mas a letra apenas romantizava
um dos seus principais defeitos. “As pessoas acham que tudo o que eu canto é o
que eu penso. Mas eu não considero isso jamais. Acho o ciúme um inferno, uma
coisa horrorosa. Me esforço por superar esse obstáculo na minha vida o tempo
todo”, diz o artista.
Em plena forma aos 74 anos, Ney ainda é tocado e
lisonjeado pelas senhoras de cabelos brancos com penteados de salão quando o
veem passeando pelas ruas do bairro. “Uma vez, uma encasquetou que queria
fotografar meu pau durante um show em que eu tirava tudo. Eu lhe dizia que ela
não tinha entendido o conceito, que aquilo não era um strip-tease, mas eu via
ela com a câmara em todos os cantos do teatro tentando me pegar”, lembra Ney,
entre risadas. O segredo do seu sucesso, até com as mulheres mais caretas que
perdem os estribos ao vê-lo subido no palco, nem ele sabe explicar.
Pergunta. Você lançou discos com canções só de Cartola,
outro só do Chico Buarque, outro só
do Tom Jobim, Ângela Maria, Carmen Miranda... Por que essas
escolhas?
Resposta. De Carmen Miranda comecei fazendo um repertório
dela, mas não fiquei restrito porque comecei a pesquisar e vi que tinha tanta
coisa boa que não precisava ficar só nela. Mas tudo o que era de melhor passava
por ela. Era a grande estrela do momento na música brasileira. Olha, eu sou
intérprete, eu não sou compositor, então me dou o luxo de desfrutar de tudo o
que a música brasileira oferece. Eu
não acredito em ficar restrito a um único estilo.
P. Já tentou compor?
R. Já, mas não é a minha. Compus duas letras, mas que
eu sou muito crítico delas. Uma que fala de um encontro de noite, que no final
você não sabe se encontrou uma pessoa de verdade ou um extraterrestre. E a
outra, dos anos 80, se chama Dívida de amor, uma música romântica, mas
que fala da morte. Eu gravei as duas, mas nunca cantei.
R. Caetano está sempre na minha mira, mas ainda não
atirei. Ainda. Mas têm muitas coisas que me interessam. Eu vou fazer agora um show
para o que fui convidado por uma diretora de cinema, Ana Carolina [Soares]. Eu vou cantar Carlos Gomes e Villa-Lobos, e um ator vai recitar
poemas do Gonçalves Dias, um poeta baiano de 1800 que começa em uma fase
romântica e depois ele vai ficando deslumbrado pelo Brasil, pela
natureza e pelos índios e acaba sendo uma apoteose ao Brasil... A proposta é
levá-lo a seis capitais, gravá-lo, e depois eu tocar minha vida, porque tenho
um repertório pop pronto e falta muita pouca coisa para acabar.
P. Você não tem planos de parar? Não se sente cansado?
No começo eu
olhava as fotografias e eu não me reconhecia, eu não achava que era eu. Era
muito louco.
R. Eu vou parar quando for impedido. Não me sinto
mais cansado do que sempre fiquei. O último show que estou fazendo é bem
puxado, e quando vi como ficou e fui fazer pensei: “Nossa o que é que fui
inventar?”. Mas agora que inventei, eu aguento. Eu tenho muito prazer em fazer,
ainda gosto mais de fazer show do que gravar. O único que eu acho chato são as
viagens, que eu perco muito tempo.
P. Qual é rumo da música brasileira? Quem você admira
neste momento?
R.Criolo é um deles, e também o Tono, um grupo daqui do Rio de Janeiro. Tem pessoas
fazendo coisas interessantes. Eu ouço dizer que há uma crise na música, mas não
é uma crise na criação, é uma crise pelos obstáculos que você enfrenta para
chegar e tocar no rádio. Hoje em dia você tem que pagar pra tocar, antigamente
você gravava um disco e você ia para todas as estações de rádio do país.
P. Haverá uma nova geração de Chicos, Caetanos,
Marias Bethânia, Neys... Alguém que represente este momento no Brasil?
R. Não sei. Se a gente concluir que viver é um
trânsito, as coisas estão se transformando com muita velocidade, então eu não
sei onde vai dar. Tudo pode acontecer. No Brasil não para de aparecer artista
diariamente, só que muitos vêm e vão, mas é um celeiro artístico, que eu acho
maravilhoso. Talvez é o que pode salvar o Brasil, porque quando essa
mentalidade artística se expandir será de todos.
P. Há um abismo brutal entre o Ney Matogrosso,
exibicionista e ousado do palco e o Ney Matogrosso, tímido e reservado, do dia
a dia. Como se relacionam um Ney com o outro?
Existe uma
violência agora embutida em todo o mundo, você hoje em dia não pode dar uma
opinião.
R. Durante um período grande eu pensei que fosse esquizofrênico, que eu tivesse dupla
personalidade. Até que eu observei que, com o tempo, aquilo foi se aproximando
um do outro, porque no começo eu olhava as fotografias e eu não me reconhecia,
eu não achava que era eu. Era muito louco. Ai fui entendendo que sou eu mesmo,
que não tenho esquizofrenia nenhuma, e que no meu trabalho é assim, é tudo
extrovertido, e que eu fora do palco não tenho nenhuma necessidade daquela
manifestação. Absolutamente nenhuma.
P. E como se explica isso? Por que na hora de fechar
a porta essa necessidade de expressão, de reivindicação perde fôlego?
R. Eu não explico, eu aceito. Mas não é que eu deixe
de ser reivindicativo. Eu sou uma pessoa que exige direitos, reivindico o tempo
todo, mas não tenho necessidade daquela exposição. Eu sou uma pessoa consciente
do mundo que eu vivo, da realidade da vida, da realidade dos governos, das
igrejas... Sei tudo isso, sou ligado, não sou bobinho. Minha única via para
poder expressar tudo o que eu penso do meu país e do mundo é nas entrevistas
que eu concedo, e no palco desafio todas as regras. E eu sou ousado, sim, sou
atrevido, sim, porque eu preciso ser, porque o Brasil está mais careta do que
era.
P. Como você, que enfrentou uma ditadura, pensa
assim?
R. Porque é assim. O Rio de Janeiro, nos anos 60, era
uma cidade onde de quinta à sábado você podia andar na rua até cinco da manhã
que fervia de gente. Quando aparecia uma bicha muito louca na rua, o povo
aplaudia. Eu achava aquilo tão engraçado que eu ficava admirado. Eu vinha do
Mato Grosso, onde só tinha um [gay] que passava na rua e só faltava o povo
jogar pedra. Isso era de uma maneira geral, o Brasil era mais tolerante com
todas as diferenças e foi ficando intolerante. Quem instituiu a violência no Brasil
foi a ditadura militar e o povo passou a ser violento. Existe uma violência
agora embutida em todo o mundo, você hoje em dia não pode dar uma opinião. Nas redes sociais as pessoas caem furiosas. Eu não
tenho rede social porque não
me interessa o que as pessoas estão pensando, porque as pessoas estão loucas,
estão radicais. Como a gente vai ser um país com pensamento radical? Mas você
vê isso em tudo. Na política estamos chegando à beira de uma guerra civil por
causa dessa gente ridícula.
P. De que gente ridícula?
R. Do Governo ridículo que nos governa. Toda essa
gente tem que ir para a cadeia. Você não pode deixar no poder um Governo que
saqueia o país. Esse juiz Sergio Moro está dignificando a Justiça no nosso país. Porque
quem rouba é ladrão e ladrão tem que ir para a cadeia, não é só pobre que tem
que ser preso. Eu não estou dizendo que nunca roubaram, mas eles chegaram com tanta sede ao pote que foram descarados. Vamos
parar, não podem roubar mais. Eu sempre falei o que eu acho, se eu não me
privei de dar minha opinião nem na ditadura porque eu vou me privar agora?
Agora que me engulam, não dizem que é uma democracia? Vamos ver se é mesmo.
R. Sou. Se se demonstrar sua culpabilidade, ela deve
sair.
P. O que levou ao jovem Ney a servir na aeronáutica?
R. Era o único pretexto que eu tinha para sair de
casa em aquele momento. Era 1959 e nem filho homem saia de casa, só saia casado
e eu tinha 17 anos. Não queria mais viver nessa casa, não queria mais viver
mais com aquele pai.
Eu descobri
muitos anos depois que eu tinha criado um manto de chumbo no meu coração, para
eu não necessitar de ninguém e de nada.
P. A relação com seu pai melhorou com os anos? Ele
chegou a te ver subido num palco?
R. Depois de muitos anos ficamos amigos. Ele me viu
várias vezes, só não viu Secos e Molhados. A primeira vez que ele me viu foi no
meu primeiro disco solo. Minha irmã me disse que ele tomou remédio para o
coração porque ele não sabia o que ele ia ver. Ele assistiu o show e no final
falou para minha irmã que ele estava totalmente enganado, que eu era um grande
artista. Mas para mim ele não disse.
P. Você chorou ao ouvir isso?
R. Não. Não sou desse jeito. Eu sou muito pé no chão,
não é que eu não seja emocional, mas não sou uma pessoa que chora fácil. Eu
tive que criar muita defesa para conviver no mundo, eu saí criança de casa. E
quando eu saí, eu fui conviver num quartel só com homens, tendo que delimitar o
meu território o tempo tudo porque se não seria invadido. Eu descobri muitos
anos depois que eu tinha criado um manto de chumbo no meu coração, para eu não
necessitar de ninguém e de nada.
P. Isso não dificultou seus relacionamentos com as
pessoas?
R. Sim, até que tomei daime (ayahuasca) durante um
ano e meio. Ai eu descobri que eu tinha feito isso comigo mesmo conscientemente
e não me lembrava. Eu cheguei a ver o momento em que tomei essa decisão e foi
assim: “Eu não preciso de amor de pai. Eu não preciso de amor de mãe. Eu não
preciso do amor de ninguém. Eu não preciso do mundo. Eu quero que o mundo se
foda. Eu vou tocar minha vida”. Um dia, depois de 12 horas tomando daime,
deitei na minha cama e percebi, veio aquela memória e meu peito escancarou e vi
raios verdes jorrarem dele. Parecia que tinha tomado um ácido. Aí eu fui
mudando, as pessoas me perguntavam o que estava acontecendo comigo.
P. E você ficou um doce?
R.Eu sempre fui doce, mas eu não me permitia ser. As pessoas
se aproximavam de mim, mas eu cortava. Se eu namorasse alguém uma noite, se
quisesse me ver no dia seguinte eu já cortava, não tinha espaço para isso.
Tinha espaço para sexo, sem compromisso,
eu fugia de qualquer envolvimento, até que teve uma vez que eu não consegui
fugir...
P. E o que aconteceu?
R. (Risos) Admiti a possibilidade. Eu entendi que era
possível ter uma relação com alguém duradoura.
P. Estamos falando do mesmo alguém (o Cazuza)?
Eu ouço
dizer que há uma crise na música, mas não é uma crise na criação, é uma crise
pelos obstáculos que você enfrenta para chegar e tocar no rádio.
R. Sim.
P. E esse foi seu grande e único amor?
R. Não, não foi o único. O primeiro, esse que me
desestabilizou foi um grande amor, mas eu tive três grandes amores. Com ele, eu tive
a sensação de que eu gostaria de viver, ele me abriu, e depois eu tive um
relacionamento de 13 anos. De lá para cá sou uma pessoa normal, não sou ansioso
por relacionamentos, não sou fechado, mas não procuro. Algumas vezes acontece. Eu preciso da solidão e não consigo
viver sem meus momentos sozinho.
P. A sociedade brasileira evoluiu no debate cidadão
de questões importantes como os direitos dos homossexuais, legalização das drogas, aborto... Embora
as leis continuam sendo rígidas nesse sentido. No caso da Aids, no
entanto, o assunto continua sendo tabu em todas as esferas, e é sinônimo de
desinformação e preconceito. Qual é sua relação com o tema? Por que parece que
esse não é também um problema da sociedade?
R. A Aids está atingindo a população de 15 a 20 anos.
Eles não entendem porque eles não viveram. Eu tive uma semana em que fui três
vezes a enterrar amigos. Eles acham que não mata, que tomam remédio e pronto,
meu deus! É tão simples usar uma camisinha, não sei qual é o problema. Mas é
verdade que não se fala mais, nem as autoridades.
P. Você alguma vez se preocupou por ter contraído a
doença?
R. Esse com quem eu morei 13 anos, morreu da doença e
quando eu fui fazer o teste, para minha enorme surpresa, eu não estava
contaminado. Eu perguntei para vários médicos como é que eles explicavam que
após ter contato com o vírus eu não era portador. Me disseram que não tinha
explicação. Agora, eu não dou mole, achando que eu sou imune. Antes era vida
louca para todo o mundo, camisinha era só para quem não queria ter filho.
P. O que você opina da onda conservadora e esse
ressurgimento religioso que domina parte dos debates no pais?
R. O Brasil é um país laico, mas aqui deixaram essa
infiltração acontecer. Eu acho que o que vai acontecer é cobra comendo cobra.
Mas o povo tem que se mexer. Não existe esquerda e direita mais. Aqui
ultrapassamos a ideologia política, aqui se trata de malfeitores e o povo tem
direito de colocar eles para correr.
P. No filme Ralé, que Helena Ignez acaba de
estrear com você como protagonista, vocês tocam vários assuntos da sexualidade
e da vida. Me diga o primeiro que vem na sua cabeça sobre eles. Liberdade sexual?
R. Todas as liberdades.
Não existe
esquerda e direita mais. Aqui ultrapassamos a ideologia politica, aqui se trata
de malfeitores e o povo tem direito de colocar eles para correr.
P. Enfrentar a velhice?
R. Eu não enfrento a velhice, eu a aceito. Convivo
com a possibilidade da morte bem tranquilamente. Eu não tenho medo de nada.
P. O amor livre como forma de relacionamento.
R. Eu já experimentei nos anos 70. É interessante mas
tem uma hora, pode ser que agora as pessoas estejam mais acostumadas com o
contexto, que alguém tinha ciúme e acabava. Era interessante como exercício.
Não era fácil, porque todos nós tínhamos ciúme. Eu fui o que aceitei o terceiro
e para minha enorme surpresa eu aceitei com tranquilidade, porque eu pensava
que nunca seria capaz. Mas eu aceitei e gostei, mas aí o outro não gostou que
eu gostasse, né?