Momento precioso
na historia da musica universal, embalou meus sonhos, revolta, perdão e esperança
quando adolescente. Realmente era a África do Sul do apartheid, ainda eu não notara
o apartheid daqui – tão violento mais, por ser daqui, do nosso Brasil. Mas vale
a pena verem este filme. É lindo demais, é poesia e reconciliação pura.
Under
African Skies" não se limita à mera representação simbólica do regresso de
Paul Simon à África do Sul, 25 anos após a gravação do polêmico álbum
"Graceland", e à mítica deslocação do cantor ao território. É verdade
que encontramos alguma nostalgia e episódios "decorativos" pelo
regresso de Simon ao território, mas "Under African Skies" destaca-se
por nos dar quase tudo aquilo que poderíamos esperar do documentário e até um
pouco mais. Não falta a representação de um contexto político e social da
época, a visão dos intervenientes sobre os acontecimentos, muita música, boa
utilização de materiais de arquivo, depoimentos interessantes, uma notória
investigação, tudo num ritmo fluido numa obra que surpreende pela sua grande
maturidade, com Joe Berlinger a realizar um documentário muito acima da
média.
Causador de grande polêmica
quando do seu lançamento em 1986, "Graceland" revelou-se uma das
obras mais marcantes de Paul Simon, tendo resultado de uma fusão de culturas,
entre a música pop norte-americana e a música africana, uma obra apaixonante da
qual temos a oportunidade de conhecer um pouco dos bastidores da sua
elaboração, os sentimentos que envolveram os seus protagonistas, o contexto
político e social da época e acima de tudo a paixão pela música que unia todos
os participantes deste projeto. Essa paixão passa claramente para o espectador
que se encontra a assistir a "Under African Skies", enquanto Paul
Simon revela esse sentimento tão belo pela sua profissão, pela música e pelos
seus colegas, explorando nos seus depoimentos temáticas que vão desde as polêmicas
relacionadas com a sua ida à África do Sul quando as Nações Unidas tinham
proibido os artistas de viajarem para o país num modo de isolar o regime do
Apartheid, a formação da banda para gravar o CD, a liberdade criativa que teve
após o fracasso comercial de "Hearts and Bones", a escrita das
músicas, os ensaios, entre outros temas.
Mas não é só Paul Simon e a
gravação do disco o centro de "Under African Skies". A força do
documentário é exatamente essa, de não ficar pela mera ilustração e abordar de
forma interessante, informada e até problematizante as questões que envolveram
a elaboração do disco, em particular o contexto político problemático. Em jogo
não estava só o lançamento de um disco, mas todo um debate em volta da quebra
de Simon do embargo das Nações Unidas, vista na época quase como um
"apoio" do músico ao regime do Apartheid quando a questão era exatamente
o contrário. Paul Simon no seu disco não procura engolir a cultura africana mas
sim mesclá-la com o seu ritmo, procura uma colaboração artística entre seres
humanos com cultura distintas, mas iguais na sua essência, não surgindo
distinguidos pela cor da pele. Curiosamente, ou talvez não, este ato de Paul
Simon foi visto como algo quase imperialista, como se o rapaz yankee branco quisesse
explorar os negros, ou fosse um mero capricho do cantor, quando na verdade este
apenas sentia uma intensa admiração pela música africana.
Apesar desta convulsão,
que tornou Paul Simon quase como uma persona non grata junto das Nações Unidas,
suscitando boicotes aos seus concertos e protestos populares, a verdade é que
no seio dos artistas sul africanos esta colaboração era uma oportunidade de
expressarem uma voz, era uma oportunidade de mostrar o talento destes artistas
negros. E este é um ponto interessantíssimo, com Paul Simon a quebrar algumas
barreiras culturais, embora tenha sido muito criticado, mas, como salienta um
dos seus críticos da época, afinal estava à frente do seu tempo. A todo este
debate recheado de conteúdo encontramos ainda aqueles momentos emotivos
centrados no regresso de Paul Simon à África do Sul, o seu reencontro com
artistas sul africanos como Ray Phiri (guitarra), Isaac Mtshali (bateria),
Barney Rachabane (saxofone), Vusi Khumalo (baterista de "Graceland"),
Bakithi Kumalo (baixista), entre outros, bem como depoimentos de elementos como
Dali Tambo, o fundador dos Artistas contra o Apartheid, e o lendário Sir Paul
McCartney.
No meio de todos estes
depoimentos quem sobressai mais é Paul Simon. É óbvio que o documentário serve
como uma homenagem ao cantor e claramente apresenta uma postura favorável em
relação ao mesmo, mas é impossível não reparar em toda a alegria, dedicação e
amor que este tem pela música e o respeito que tem pelos colegas de profissão.
Esse respeito levou-o a conquistar o apreço e a ser respeitado por muitos dos
seus pares, incluindo os elementos dos Ladysmith Black Mambazo, que colaboraram
com Simon em "Graceland" e conquistaram o Mundo com a sua música, em
grande parte graças a esta colaboração que alavancou a sua carreira
internacionalmente. Escrever mais sobre "Under African Skies" é
estragar o visionamento do leitor, não só por se poder revelar em demasia, mas
também porque as palavras são incapazes de descrever os sentimentos vibrantes
que passa este magnífico documentário, que partilha o título com uma das várias
músicas apaixonantes de Paul Simon. Nota-se que Joe Berlinger sabe o que faz, o
caminho que quer seguir e como abordar esse caminho, desenvolvendo uma obra cujo
valor vai muito além da nostalgia do regresso de Paul Simon à África do Sul.
"Under African Skies" revela-se um documentário informativo, emotivo,
intenso e simplesmente inesquecível. Sem quaisquer reservas, uma das melhores
obras cinematográficas do IndieLisboa 2013.
Classificação: 4.5 (em 5).
Título original: "Under African Skies".
Realizador: Joe Berlinger.
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