Americano
que biografou Clarice recebe Prêmio Itamaraty de Diplomacia Cultural
- 01/07/2016 19h10
- Paraty (RJ)
Vinícius
Lisboa - enviado especial da Agência Brasil
O escritor americano Benjamin Moser recebeu na Flip
o Prêmio Itamaraty de Diplomacia CulturalTomaz Silva/Agência Brasil
O escritor americano Benjamin
Moser, autor de Clarice, recebeu hoje (1º) o Prêmio Itamaraty de
Diplomacia Cultural pela divulgação da obra de Clarice Lispector. A autora foi
biografada por Moser, que voltou à Festa Literária Internacional de Paraty
(Flip) para lançar mais um livro sobre o Brasil, Autoimperialismo
(Editora Crítica), que ele define como uma maneira de tentar enxergar um país
de muitos lados.
"Estou totalmente em
casa", disse o autor ao receber a premiação do diretor do Departamento
Cultural do Itamaraty, George Torquato Firmeza, que lembrou que Clarice também
era diplomata. "Se eu não tivesse escolhido você, eu teria que me esconder
[dos colegas do Itamaraty]", brincou Firmeza, que recordou outros
vencedores do prêmio, como o fotógrafo Sebastião Salgado e a diretora do
Instituto Internacional da Língua Portuguesa, Marisa Mendonça.
Depois da premiação, Moser
respondeu a perguntas de jornalistas e disse que seu novo livro é uma tentativa
de ver um país que tem mudado muito nos últimos anos."Tentei fazer algo
que colocasse em contexto uma coisa que estamos vivendo agora, mas sem
partidarismo", disse.
Novo modelo
Moser acredita que o Brasil pode
ser o país que vai formular um novo modelo de vida e desenvolvimento que não se
baseia no consumismo e no enriquecimento. "Que venha uma nova ideia
intelectual, sobretudo, de como queremos viver. Uma ideia muito básica.
Queremos estar em uma cidade feia ou bonita, por exemplo? Queremos estar no
trânsito o dia inteiro ou queremos alternativas?", disse. "Sei lá se
vai ser aqui que alguém invente uma alternativa política e social, por quê
não?"
Para essa mudança, Moser defende
que pessoas bem intencionadas não se intimidem e enfrentem a carreira política.
"Gente decente tem que dar a cara". Ele diz que não via como
alternativa para os problemas do país o afastamento da presidenta Dilma
Rousseff no processo de impeachment e disse que a impressão dele e dos
estrangeiros que conhece era de que o país estava trocando um governo ruim por
outro.
Saiba Mais
- Na Flip, neurocientista que trocou Brasil pelos EUA critica política científica
- Casa Shakespeare celebra 400 anos da morte do autor durante Flip em Paraty
"Ninguém está a favor porque
a gente não vê alternativa. Não é porque somos petistas alucinados que não nos
damos conta da situação, mas porque a situação é que estamos no mesmo modelo de
desenvolvimento", disse. "A grande oportunidade que se perdeu era
fazer uma ideia brasileira do que é se desenvolver, que não seja com carro e
montar um espigão. Que seja uma maneira de repensar como vivemos".
O autor disse que hoje se
considera otimista em relação ao país, mas que antes, quando a economia tinha
resultados melhores, era pessimista. "As forças do Brasil que a gente viu
não eram realmente intelectuais, sociais e morais, eram dinheiro. E eram por
causa dos preços das coisas que o Brasil vendia para a China", disse o
autor, que considera que a grande imprensa brasileira desempenhou um papel
parecido com o de tablóides britânicos ou com o canal de TV conservador
americano Fox News durante a crise política.
O escritor americano Benjamin Moser disse que hoje
se considera otimista em relação ao paísTomaz Silva/Agência Brasil
"A maneira de falar sobre o
que estava acontecendo aqui foi uma coisa como a gente vê nos Estados Unidos
com a Fox News, uma coisa de direita que fica esquentando corações", diz.
"Eu acho que já seria a hora de desenvolver outros modelos de imprensa.
Porque o país está precisando".
Homofobia e racismo
Homossexual assumido, o escritor
diz que acompanha a situação da homofobia e transfobia no Brasil e disse que a
população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis,
Transgêneros e Intersexo) enfrenta muito preconceito no país, apesar de ele
considerar as leis avançadas.
"Dói demais pensar que essas
pessoas estão sendo mortas aqui. Gostaria de fazer mais", lamentou.
"É uma questão que é muito urgente, porque hoje a gente está falando sobre
isso, sobre como vai ficar daqui a dez anos e em algum lugar do Brasil alguém
foi assassinado por ser gay hoje. A gente tem que ver com mais
urgência".
Moser também falou sobre o
racismo no país e disse que, quando teve seu primeiro contato com o Brasil,
percebeu uma grande recusa de se falar sobre o tema, que, segundo ele, era
considerado invenção de americanos que não entendiam bem o Brasil. "Falar
isso era um papo de gringo mesmo. Hoje, vejo matérias diariamente em algum
lugar".
Edição: Fábio
Massalli
Nenhum comentário:
Postar um comentário