Nem tudo eram
rosas
Dos primeiros ensaios na cozinha às paradas de
sucesso, o duo berlinense Rosenstolz trilhou um caminho árduo. Hoje, até o
prefeito de Berlim corre para vê-los no palco. Mas não foi sempre assim.
Rosenstolz ficou muito tempo
associado à cena gay
Eles encerraram sua última turnê com chave de ouro:
após 27 shows esgotados por todo o país, o duo berlinense Rosenstolz levou 17
mil fãs berlinenses ao delírio em um show a céu aberto. Até Klaus Wowereit,
prefeito da capital, estava presente. Uma semana após seu lançamento, o atual
disco Herz (Coração) foi premiado com o disco de ouro e
em oito semanas alcançou o de platina.
Mas a carreira de AnNa R. e Peter Plate não foi
sempre assim. Para muitos, os Rosenstolz eram uma banda difícil de entender.
Primeiro porque, durante muito tempo, o duo ficou reservado à cena gay (Peter
assumiu sua homossexualidade aos 19 anos). Além disso, sua música não é de
fácil classificação: os Rosenstolz gostam de percorrer os caminhos mais
exóticos para chegar à música pop.
Mesmo no auge do sucesso, o duo ainda marca
presença na cena onde começou. Peter Plate é hoje dono de um bar em Schöneberg,
o bairro gay de Berlim. A banda também se envolve ativamente em questões
sociais: a cada turnê, os Rosenstolz doam centenas de milhares de euros à
Deutsche Aidshilfe, a associação alemã de ajuda aos portadores do HIV.
Ensaios na cozinha
Desde pequena, AnNa R. tentava a carreira de
cantora na então Berlim Oriental, embora não tenham sido poucas as vezes em que
foi aconselhada a desistir dos ambiciosos planos. Com uma canção de Whitney
Houston, ela lutou por uma vaga na Escola de Música de Friedrichshain, bairro
onde nasceu. Sem sucesso.
Peter Plate nasceu no outro lado mundo, em Nova
Délhi, Índia, onde seu pai trabalhava como diplomata, e foi trazido mais tarde
pelo padrasto para a região do Harz, no estado alemão da Baixa Saxônia. Após a
queda do muro de Berlim, Peter tomou a decisão acertada de ir para a capital,
que vivia então seus tempos áureos.
Peter logo encontrou um apartamento e foi o próprio
locador quem lhe apresentou AnNa. Os dois começaram imediatamente a compor
juntos. Os primeiros ensaios aconteceram na cozinha do apartamento de Peter,
escondido nos fundos de uma velha casa - o banheiro, diga-se de passagem,
ficava do lado de fora, na escadaria.
Os primeiros shows
O primeiro show foi coisa para amigo: dos 30
presentes, apenas 15 eram pagantes. Mesmo assim, AnNa levou a cabo sua idéia de
vestir uma roupa diferente a cada canção. Um pesadelo para Peter, que teve de
lidar com a inquieta platéia sozinho. Mas os shows continuaram até que o duo
chamou a atenção de Tom Müller, naquela época produtor de Nina Hagen. Juntos,
eles lançaram em 1992 o álbum de estréia Soubrette werd' ich nie. O
disco vendeu mal, mas nele estão canções que hoje fazem parte de qualquer show
do duo.
Dois anos depois, em 1994, veio o álbum
seguinte, Nur einmal noch (Só mais uma vez). Eles
juntaram algum dinheiro e fizeram um vídeo, que nenhuma emissora transmitiu.
Mas enfim uma boa notícia: em 1995, todos os mil ingressos para a apresentação
de ambos na casa de shows Metropol foram vendidos e uma data extra teve de ser
arranjada. AnNa e Peter estavam no caminho certo.
O contrato
Em 1996, a banda passou ao universo das grandes
gravadoras, ao assinar um contrato com a Polydor. Em 1997, veio o álbum Die
Schlampen sind müde (As vagabundas estão cansadas), que alcançou a posição
33 da parada. Um ano depois, veio o convite para disputar quem representaria a
Alemanha no festival Eurovision e o Rosenstolz acabou ficando em segundo lugar.
Uma derrota que foi, na verdade, uma vitória: a banda caiu nas graças do
público e, pela primeira vez, emplacou um single na parada alemã.
O disco Zucker (Açúcar),
de 1999, foi sucesso garantido: emplacou direto na segunda posição da parada. O
caminho era sem volta: hoje, eles são figurinha carimbada na cena musical alemã
e os discos que seguiram passam longas temporadas nas paradas de sucesso.