CONTINUAÇÃO...
A BELA MÚSICA DE PROTESTO DE GERALDO
VANDRÉ.
Amo DAS TERRAS DO BENVIRÁ. Jamais ouvi algo mais
forte e sincero que a musica Das Terras do Benvirá, o Brasil. Imagina, um
nordestino nas terras geladas e contidas da Alemanha!
Ainda em 68, a composição
"Che", em parceria com Marconi Campos vence o Festival Internacional
de Música da Bulgária. Com o acirramento da situação politica, Vandré é
obrigado a deixar o pais e se exila primeiro no Chile, onde compõe a música “Desacordonar”,
ganhando um festival no país e depois vai para a Argélia, em seguida Alemanha e
outros países da Europa. Na França em 1970, trabalhou com um novo tipo de
composição, montada apenas com assobios e sons de violão, com forte ritmo
nordestino.
Seu último
disco inédito sai em 1973, "Das terras do Benvirá". O LP contém oito
faixas, todas de composição própria, entre elas, "Na terra como no
céu", "Canção Primeira" e "De América". No mesmo ano
ele grava alguns programas de televisão que são censurados. Inicia-se aí 14
anos de isolamento e silêncio que só seria rompido em 1982 numa apresentação no
Paraguai.
Hoje,
Geraldo Vandré se mantém no isolamento. Estranhamente, no início dos anos 90,
ele compôs a música "Fabiana" em que homenageia a FAB (Força Aérea
Brasileira). Questionado, o compositor nega que tenha feito músicas políticas
de protesto e afirma que sua relação com os militares nunca foi ruim.
As
explicações para tal contradição é dada por alguns que afirmam ser uma reação à
tortura sofrida por ele na época dos militares. Vandré, por sua vez, nega ter
sido torturado e sequer ter saído do Brasil forçadamente. O fato é que sua obra
daqueles tempos sempre será um símbolo da resistência artística aos anos negros
da ditadura impostos pela burguesia brasileira.
A cultura em nos anos 60
O golpe
militar de 64 havia sido uma tentativa da burguesia brasileira, com o total
suporte do imperialismo, de colocar um fim à tendência revolucionária das
massas, que era crescente. Durante os três primeiros anos do regime militar, a
burguesia conquistou certa estabilidade política e conseguiu sufocar o
movimento operário e estudantil.
No entanto
esse cenário logo se modificou. Acompanhando o ascenso revolucionário internacional,
inclusive em toda a América Latina, novas mobilizações começam a surgir. O ano
de 1968 é o ápice disso.
O ato de 1º
de maio oficial organizado pelos sindicalistas pelegos e pelo governo foi
tomado pelos operários na Praça da Sé. O palanque foi queimado, os burocratas
sindicais foram colocados para fora e o governador interventor da ditadura,
Abreu Sodré, foi expulso a pedradas e teve que fugir de helicóptero.
Os
estudantes, durante todo o ano organizaram manifestações gigantescas pelas ruas
das principais cidades do país. Os conflitos com a polícia eram cada vez mais
constantes.
Essa era a
atmosfera política de 1968. Ascenso que só foi freado quando, em 13 de
dezembro, o presidente militar Costa e Silva decretou o Ato institucional n° 5
(AI-5), fechando o Congresso por tempo indeterminado e interrompendo as
garantias constitucionais que restavam. Era o recrudescimento da ditadura
militar.
A cultura no ano de 1968 acompanhou essa tendência
revolucionária. A arte estava em seu auge criativo e mais e mais artistas
começavam a usar sua obra para protestar contra o regime. Desde 1964 havia sido
imposta pela ditadura a censura prévia e os artistas tinham que usar artifícios
como metáforas, imagens e parábolas para driblar os censores. Qualquer gesto ou
palavra se torvava motivo para cortes e proibições para os censores.
Geraldo Vandré e sua canção de protesto
Geraldo
Vandré ingressou em 1958 na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro e logo
começa a participar do movimento estudantil. É nesse momento que inicia uma
arte voltada a preocupações políticas, participando do Centro Popular de
Cultura da UNE, criado por dramaturgo Vianinha. Foi no CPC que Vandré conheceu
Calos Lyra e passa a ter o interesse voltado à composição.
A linha do
CPC era a de que o artista deveria estar comprometido com uma arte nacional,
feita pelos brasileiros e que fosse até o povo, nas fábricas, bairros,
sindicatos e escolas.
Carlos Lyra
foi seu primeiro parceiro e como ele compôs a música "Quem quiser
encontrar o amor" da qual fez a letra. A canção foi gravada por ele em
abril de 1961 em 78 rotações e depois em 1962 por Carlos Lyra em seu LP "O
sambalanço". A música foi incluída na trilha sonora do filme "Cinco
Vezes favela" produzido pelo CPC.
Na época em
que tocava no João Sebastião Bar, Vandré estava insatisfeito com os rumos jazzificados
que estava tomando a Bossa Nova e procurava uma nova estética musical. Foi
nessa busca que compôs "Canção Nordestina", que foi apresentada num
show de Bossa Nova no colégio Mackenzie e causou impacto e espanto na platéia.
A Bossa Nova
era um desenvolvimento do samba, mas feito por artistas claramente oriundos da
classe média carioca. É dessa origem social que vem a influência erudita e do
jazz norte americano e a estética mais intimista de tocar violão e impostar a
voz.
A
inquietação dos músicos que faziam parte do CPC encabeçados por Carlos Lyra era
a de fazer uma música "nacionalista" e popular, no sentido de não se
restringir à elite. A Bossa Nova divise-se então em duas vertentes, a chamada
"intimista" mais conservadora e a "nacionalista", que
depois se desenvolve para a música engajada.
Carlos Lyra
e os outros músicos da vertente "nacionalista" buscavam as raízes da
música brasileira. Isto é bem explícito nas músicas de Geraldo Vandré, em que
percebemos a utilização de ritmos como o frevo, a embolada e o samba-canção. As
canções "Maré Cheia" e "Disparada" são belos exemplos dessa
diversidade de ritmos que fazem parte da música de Vandré.
A necessidade de romper com a burguesia e ir até as
bases operárias, camponesas e estudantis, ou seja, de colocar a arte a serviço
da população pobre do país, marcou uma mudança profunda na música popular
brasileira, tanto no que diz respeito à sua atuação política como na
constituição de uma nova estética. Foi essa busca pelo povo, defendida pelo
CPC, o primeiro passo para a constituição da música de protesto que marcou os
anos da ditadura.
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