Sem
salário, funcionários do Theatro Municipal fazem protesto artístico no Rio
- 31/10/2017 17h36
- Brasília
Léo
Rodrigues – Repórter da Agência Brasil
Orquestra
sinfônica faz apresentação de protesto em frente ao Theatro MunicipalTomaz
Silva/Agência Brasil
Com um repertório variado, que foi do clássico ao
samba, o coro, o balé e a orquestra sinfônica do Theatro Municipal mobilizaram
centenas de pessoas hoje (31), em um
protesto artístico contra o atraso dos salários dos funcionários da
instituição. A situação atinge tanto os artistas quanto os funcionários
técnicos e administrativos. Eles alegam que não receberam o salário de
setembro, não tiveram qualquer sinalização de que receberão o de outubro e
também aguardam o 13º do ano passado.
Inaugurado
em 1909, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro tem cerca de 550 funcionários.
Atualmente, é vinculado à Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e
sofre os impactos da crise financeira que atinge o governo estadual. No dia 9
de maio, os funcionários já haviam realizado uma manifestação semelhante. Na ocasião, conseguiram
receber os salários devidos de 2017. Mas o 13º de 2016 continuou pendente e os
pagamentos dos meses seguintes voltaram a atrasar.
Por outro
lado, a Escola de Dança Maria Olenewa, sediada no Theatro Municipal, não foi
atingida pela crise. Atualmente, seus recursos são garantidos pela Associação
de Amigos da Escola de Dança Maria Olenewa (Amadança), uma entidade sem fins
lucrativos criada em 1985, que gere as atividades usando recursos obtidos com a
contribuição mensal dos alunos, doações e bilheteria de apresentações.
O ato de
hoje foi realizado na escadaria do Theatro Municipal e se encerrou ao som da
música Apesar de Você, de Chico Buarque, cantada com a participação do
público.
"Os funcionários querem trabalhar. o Theatro Municipal só continuou com as portas abertas durante todo este ano porque os funcionários se nagaram a cruzar os braços. Esta casa é uma responsabilidade cultural do Poder Público. As pessoas pagam impostos para ter cultura a sua disposição. Esta não é uma casa para dar lucro, para render dinheiro. É um teatro para retornar às pessoas aquilo que elas já pagam diariamente", afirmou o violinista Ayran Nicodemo, presidente da Associação da Orquestra do Theatro Municipal.
"Os funcionários querem trabalhar. o Theatro Municipal só continuou com as portas abertas durante todo este ano porque os funcionários se nagaram a cruzar os braços. Esta casa é uma responsabilidade cultural do Poder Público. As pessoas pagam impostos para ter cultura a sua disposição. Esta não é uma casa para dar lucro, para render dinheiro. É um teatro para retornar às pessoas aquilo que elas já pagam diariamente", afirmou o violinista Ayran Nicodemo, presidente da Associação da Orquestra do Theatro Municipal.
Tereza
Cristina Ubirajara é bailarina do Theatro Municipal há 36 anos. Hoje ela não
dança mais, porém integra cenas como personagem. Para Tereza Cristina, além do
impacto financeiro resultante do atraso dos salários, os artistas sofrem com o
abalo psicológico. "Exercemos profissões em que não podemos errar. Você
não pode subir ao palco atordoado com seus problemas particulares, sem foco no
que está fazendo. Precisamos de ter o mínimo de estabilidade emocional e
psíquica. Mas essa situação é desumana", desabafou a bailarina.
Tereza
Cristina ressaltou que esta é a maior crise que vivenciou em sua longa carreira
na instituição. "Nossa luta é para dançar, cantar e tocar. Este é o teatro
mais tradicional do nosso país. E nós, artistas, estudamos e nos aperfeiçoamos
até na véspera da aposentadoria. O que queremos é exercer nossa profissão,
aplicar os nossos conhecimentos."
Espetáculo
cancelado
Corpo de
baile, que cancelou nova temporada do Lago dos Cisnes, participa do
protestoTomaz Silva/Agência Brasil
Diante da
situação, foi cancelada a nova temporada do famoso espetáculo romântico de balé
O Lago dos Cisnes. Cerca de 6,5 mil ingresso já haviam sido vendidos
para as apresentações, que deveriam ter começado no último dia 29 e iriam até 8
de novembro.
"É o
balé mais difícil do repertório clássico. E, para que seja executado, os
bailarinos precisam estar em sua alta performance. Com os salários atrasados,
muitos não conseguem vir diariamente para ensaiar", disse Pedro Ismael
Olivero, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Entidades Públicas da
Ação Cultural do Estado do Rio de Janeiro (Sintac) e também da Associação do
Corpo Coral do Theatro.
Segundo
Pedro, além de atrasar os salários, o governo estadual não tem honrado
compromissos com o custeio da instituição. "O teatro hoje é mantido pela
verba de bilheteria. Há mais de dois anos, o governo estadual não repassa o que
deveria. A produção é feita através de verbas captadas pela Lei Rouanet [Lei
Federal 8.313/1991]. Antigamente, o governo do Rio de Janeiro garantia cerca de
R$ 14 milhões apenas para produção. Isso nos anos 1990 e 2000. Agora isso não
existe mais. E para custear a manutenção também não está chegando nada",
afirmou.
Pendências
Atraso de
salários não diz respeito apenas aos funcionários do Municipal, diz a SefazTomaz
Silva/Agência Brasil
A Agência
Brasil tentou, sem sucesso, contato com a Secretaria de Estado de Cultura
do Rio de Janeiro. Por sua vez, a Secretaria de Estado de Fazenda e
Planejamento (Sefaz) informou, em nota, que os servidores ativos do Theatro
Municipal receberam integralmente, no dia 6 deste mês, os salários de agosto.
"No que diz respeito a setembro, estão pendentes os pagamentos para um
total de 474 funcionários ativos, cujo valor líquido soma R$ 2,019
milhões."
A Sefaz
admite um atraso de 18 dias corridos, por considerar que o salário de setembro
deveria ter sido quitado até 13 de outubro, e que deve o 13º salário de 2016.
"O atraso não diz respeito exclusivamente aos servidores do Theatro
Municipal, mas a diversas secretarias e órgãos do Estado. Esse atraso não
resulta de desimportância atribuída pela administração estadual ao Theatro, mas
sim da falta de recursos disponíveis em caixa. Os salários serão pagos o mais
rapidamente possível, de acordo com a disponibilidade de recursos", diz a
nota.
De acordo
com a Sefaz, a crise do Rio de Janeiro foi provocada pela depressão econômica
que assolou todo o país a partir do início de 2015, sendo amplificada pela
queda do preço do barril de petróleo e pela redução dos investimentos da
Petrobras. Sediada no estado, a Petrobras esfriou suas atividades em
consequência do avanço das investigações da Operação Lava Jato, na qual a
Polícia Federal investiga esquemas de propina envolvendo a estatal.
"No
último dia 5 de setembro, foi homologada a adesão do governo do Estado ao
Regime de Recuperação Fiscal, que possibilitará o reequilíbrio fiscal e
financeiro do Rio de Janeiro", acrescenta a Sefaz. De acordo com a
secretaria, será possível agora fazer um empréstimo de R$ 2,9 bilhões e colocar
em dia todos os salários dos servidores estaduais.
Edição: Nádia
Franco