sábado, 10 de outubro de 2015

Adeus. Um novo tempo.



Morreu Jim Diamond, o intérprete de I Should Have Known Better






PÚBLICO
10/10/2015 - 14:07
O single I Should Have Known Better, que entrou diretamente para o primeiro lugar do top britânico, foi um dos momentos altos de Jim Diamond, que morreu este sábado.






  1. Música
I Should Have Known Better serviu de banda sonora aos slows mais cheesy de meados da década de 1980 e teria certamente ficado mais do que uma semana no número 1 do Top britânico se, entretanto, não tivesse aparecido The Power of Love. Foi, ainda assim, um dos momentos altos de Jim Diamond, que morreu este sábado.

A BBC, que deu a notícia, não avançou a causa da morte, explicando apenas que foi “repentina” e que Diamond, de 64 anos, morreu em casa, em Londres.

Escocês de Glasgow, Diamond integrou a sua primeira banda aos 14 anos. Já em Londres foi um dos Bandit, tendo depois assinado com a Arista Records. Após uma passagem por Los Angeles, e já de regresso ao Reino Unido, formou os Ph.D com Tony Hymas e Simon Phillips. O primeiro single do álbum de estreia da banda, intitulado I Won’t Let You Down, vendeu milhões, mas a banda não durou e Diamond assinou a solo com a A&M Records. O single I Should Have Known Better, do álbum a solo Double Crossed (1984) entrou directamente para o primeiro lugar do top.

Mais recentemente, em 2011, Diamond lançou um projecto de covers intitulado City Of Soul que gravou com vários outros músicos escoceses e cujos lucros reverteram para a sua caridade Cash For Kids.

Segundo a BBC, o último post de Diamond na sua página pessoal no Facebook data de 28 de Setembro e, nele, o músico anuncia a morte da sua mãe: “Se olharem para o céu esta noite e virem um casal a dançar sobre uma nuvem ao som da “big band” de Count Basie são a minha mãe e o meu pai. Como sempre, paz para todos vocês Jx”.


terça-feira, 6 de outubro de 2015

O maravilhoso balé clássico e os brasileiros



Sonho de entrar para o mundo do balé acirra disputa por vaga em escola do Rio.


  • 05/10/2015 06h05
  • Rio de Janeiro
Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil












Grandes nomes do balé deram primeiros passos nas salas do Theatro MunicipalCristina Indio do Brasil/Repórter da Agência Brasil



O gosto pelo balé une meninos e meninas na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, vinculado à Secretaria de Estado de Cultura. Esse gosto junta também meninos e meninas de diferentes faixas de renda. Enquanto alguns já fizeram aulas em escolas particulares, outros frequentaram projetos em comunidades e tem ainda os que nunca estudaram balé.


Conseguir uma vaga naquela que é considerada a principal escola de dança do Rio, fundada em 1927, transforma-se em uma disputa acirrada. A procura é grande e é preciso passar por uma seleção rígida para verificar o potencial da criança ou do adolescente para a dança. E é justamente essa capacidade que faz alguns levarem vantagem na escolha.

Sinthia Liz, que mora no centro do Rio, entrou para a escola com 8 anos e nunca tinha passado por uma aula de dança. “A minha história é engraçada. Eu andava meio corcunda quando tinha 5 anos, minha mãe ficou preocupada e me levou ao médico, que disse que seria bom me botar no balé para corrigir a postura." Hoje, com 17 anos, Sinthia afirma que não pode pensar na vida sem o balé. A única fase em que precisou ficar afastada das aulas foi quando teve uma lesão e não pôde dançar por cinco meses. "Foi um sofrimento, mas agora estou bem”, diz, aliviada.

No próximo dia 13, a bailarina embarca para a Alemanha para estudar balé na Fundação Heinz Bosl, da Universidade de Artes de Munique. Sinthia fará parte da Junior Company e poderá dançar com a companhia principal. “Até agora, é difícil acreditar. A ficha só vai cair quando eu estiver lá na sala de aula com outros professores, outros alunos, dividindo a forma de trabalhar de modo diferente.”

O contrato, de um ano, pode ser renovado por mais 12 meses. A diretora da escola Maria Olenewa, Maria Luisa Noronha, foi quem conseguiu a vaga para Sinthia. "Ela está felicíssima. Eu estou tão contente que parece que sou eu. Fico pulando de felicidade, porque consegui colocar esta menina numa companhia muito boa", conta, animada, Maria Luisa.
 Morador da Rocinha, Luiz Fernando quer estudar em Nova YorkCristina Indio do Brasil/Repórter da Agência Brasil

Morador do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, Luiz Fernando Daniel Rego estuda na Maria Olenewa, mas já fazia um projeto de dança na comunidade, quando foi incentivado a se inscrever na escola do Theatro Municipal. No começo, diante da rigidez dos professores, pensou em desistir. “Eu me sentia mal. Não me sentia acolhido por todos. Aí, comecei a conversar com os professores e eles me deram apoio.”

Luiz Fernando chegou a ter algumas faltas, mas acabou chegando à conclusão de que queria mesmo fazer balé, e não podia ser fora da Olenewa. “Se a escola não me desse a técnica, eu não estaria aqui hoje”, diz o jovem, cujo sonho é ser o primeiro bailarino do Municipal. Ele pensa também em cursos no exterior. “Quero estudar na Alvin Ailey [escola de dança de Nova York, nos Estados Unidos]. Eu tenho grandes aspirações e isso me motiva.”

Para chegar a um destaque maior neste universo não adianta ter apenas a técnica da dança. É preciso ter uma formação completa e expandir a cultura. Paulo Melgaço, que há 23 anos é professor de história da dança na escola, informa que, além de cursarem outras disciplinas, até um jornal é produzido pelos alunos. “Produzem as matérias e fazem as entrevistas. Tentamos formar sujeitos, seres humanos para a vida."

Vida difícil
Apesar de a imagem dos bailarinos ser lúdica e fazer parte do imaginário de muita gente, a vida deles é difícil. São muitos estudos e ensaios para aprimorar a técnica, contusões, dores e tratamentos contra lesões. Existe, porém, compensação.

“Não tem explicação. O bailarino está com dor, toma um remédio e dança. Eu já dancei sem unha. Enquanto a gente 'está bailarina', a gente quer dançar. É o que alimenta a gente. [Sem a dança] é como se tirassem o nosso feijão com arroz e a nossa água”, disse a primeira bailarina do Municipal, Claudia Mota, que começou a estudar balé aos 4 anos e se formou na Escola Maria Olenewa.

Segundo Claudia, a satisfação aumenta se a próxima apresentação for com o balé favorito. “Giselle. Dizem que quando a bailarina chega a fazer Giselle, ela se torna uma grande bailarina, porque é uma carga emocional muito grande, aliada a um esforço físico muito grande. É um balé muito respeitado e antigo. É muito difícil interpretar e viver Giselle. É uma história muito linda e um desafio para a bailarina”, diz Claudia. Giselle foi um balé que marcou sua carreira: "Já dancei aqui no Municipal, já dancei fora, já fiz tournées [viagem com itinerários determinados com finalidade artística]. É um balé de que eu gosto, porque sou dramática.”

Para Maria Luisa Noronha, que tem uma vida dedicada à dança e, além de ser bailarina, pôde passar para o outro lado do balcão ao assumir a direção da escola, o fato de ser pública e a qualidade do ensino  explicam a grande procura pela Olenewa. “Mas a qualidade do ensino é o lance da excelência. Tem aula todo dia. A dança dá disciplina e uma formação muito boa.”
 Cecilia  Kerche  e  Ana  Botafogo,  de  primeiras   bailarinas a diretoras do corpo de baile do Theatro Municipal Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil

Duas das primeiras bailarinas do Theatro Municipal do Rio também estão passando por uma experiência nova. Há dois meses, Ana Botafogo e Cecilia Kerche dividem a direção do corpo de baile e a tarefa não tem sido fácil. “É a maior companhia de dança clássica no Brasil, a mais importante, com mais tradição. Vamos fazer 80 anos de vida no ano que vem. Então, é um privilégio, mas uma grande responsabilidade e uma grande missão”, afirma Ana Botafogo.

De acordo com Ana, a renovação do corpo de baile é feita, em parte, com alunos que se formam na escola Maria Olenewa. “Mas não passam automaticamente. Podem se formar, mas nem todos acabam virando bailarinos." Alguns se tornam professores e outros, coreógrafos.

Se depender da menina Anoushka Durão, de 8 anos, o futuro já está traçado. Desde o início do ano, ela frequenta as aulas – todos os dias vai para lá com um sorriso no rosto e com os olhos brilhando. “É muito legal porque é a minha chance de ser uma bailarina profissional. Preciso praticar muito”, afirma Anoushka, ao lado da mãe, a fotógrafa canadense Chantal James, que mora no Brasil há dez anos e já foi bailarina.

Cecilia Kerche diz que se vê nas crianças que chegam à escola e pretendem seguir a carreira. Ela conta que seu primeiro contato com a dança foi quando assistiu a uma aula e ficou fascinada com o giro das bailarinas na ponta dos pés. “Me encantou e vejo esse encantamento também nas crianças que encontro. Aqui a criança já fica vendo o futuro dela [no contato com os bailarinos do corpo de dança] e sabendo que, com o árduo trabalho na escola, será possível fazer o seguimento artístico da carreira.”

Inscrições abertas
Neste mês, a escola recebe inscrições de novos alunos. Arlene Ramos, conhece bem essa rotina: mãe de uma ex-aluna, depois de acompanhar a filha, que entrou para a escola em 1989, acabou como funcionária. Todos os anos, Arlene vê a ansiedade de quem se inscreve e pretende seguir no balé. “Todo mundo chega aqui e diz que a filha é uma Ana Botafogo e que vai passar. Sempre tem. Ela [Ana Botafogo] é uma referência.”

Sabrina Cunha, que mora no centro do Rio, foi logo ao teatro no primeiro dia de inscrição por insistência da filha, que há três meses dizia que queria tentar fazer a seleção. “Quero que minha filha dance aqui, até pelo fato de ser bailarina do Theatro Municipal, que tem bastante nome lá fora”, confessa Sabrina, referindo-se à qualidade do ensino. “Tenho certeza de que ela vai passar na seleção. Vai ser a única bailarina da família."

A enfermeira Maria Efigênia de Oliveira, moradora de Botafogo, tenta explicar o papel dos pais no incentivo aos filhos que querem entrar no mundo da dança. A filha de Maria Efigênia faz balé desde os 5 anos e agora, aos 9 anos, quer passar pela seleção na Maria Olenewa. A mãe diz que está preparada para ficar sentada em um banco, do lado de fora das salas de aula, esperando a filha terminar o teste. “Pelos filhos, a gente faz qualquer coisa, porque vale a pena. Vale muito a pena”, afirma.

A funcionária Arlene destaca que, no início, o movimento das inscrições é mais fraco, mas, no meio do mês, começa a aumentar e, perto do encerramento, a corrida é grande. “Tem até que distribuir senha.” Arlene diz que já acompanhou o desenvolvimento da carreira de muitos alunos e, com felicidade, cita o sucesso alcançado por Sinthia Liz. “A gente fica muito contente e emocionada, a Sinthia está indo para Munique. A gente a viu começar no preliminar. É muita emoção.”

Edição: Nádia Franco